domingo, 8 de fevereiro de 2009

A "MALDIÇÃO" de Zé do Caixão

Sinopsis
Este filme é resultado do encontro de José Mojica Marins, o "Zé do Caixão", com a Escola Porto. É o primeiro filme de Mojica em Portugal e foi realizado durante o período das comemorações dos 500 anos de descobrimento do Brasil. É um filme de ficcção documental: na abertura, rituais e bruxarias em nome de Zé do Caixão; em sequência, fragmentos do encontro de José Mojica Marins com realizadores no Cineclube do Porto e o passeio de Mojica na Igreja de São Francisco e na Escola do Porto, à beira do Rio Douro. Aos sessenta e poucos ou muitos anos, Mojica revela neste filme uma humildade exemplar, típica de artistas que acreditam no que fazem.

Ficha técnica e artistica
Ano de Produção: 2000 - Rodado no Porto, Portugal - Tempo: 15 Minutos - Formato: Película Super-8 MM - Argumento, Câmara, Realização e Montagem: Zenito Weyl - Actor: José Mojica Marins - Actriz Convidada: Salomé Arieira - Cenografia: João Trindade - Fotografia de Cena: Celestino Monteiro - Direcção de Fotografia: Bruno Anneda - Produção: Sério Fernandes
Oitavo cartaz

Amaldiçoada seja a sua arte, Mojica!

Sétima conferência relâmpago

Conheci Mojica em 2000. Na cidade do Porto, Potugal, onde ele participava do "Fantasporto". Fui ao hotel onde ele estava hospedado e nessa mesma hora ele me enregou duas latas de 16 milímteros com o seu "À meia-noite levarei sua alma", que projetamos em uma sessão lotada no Cineclube do Porto para estudantes da escola onde eu me formei em cinema. Então, convidei Mojica para fazer um filme, "A maldição de Zé do Caixão em comunhão com a Escola do Porto sob as bénçãos de São Francisco de Assis" (Super-8 milímetros), película que pode ser vista no youtube (http://www.youtube.com/watch?v=xXbkUOU8tdg).
"A maldição..." foi o seu primeiro filme em Portugal, que estreamos em Belém durante o Concílio Artístico Luso-Brasileiro, que criou o Cineclube Amazonas Douro, o qual coordeno e do qual o Mojica é presidente de honra. E Mojica realizou conosco (um total de 13 pessoas – o número não foi por acaso) um outro flme, dessa vez, digital, o "Pará Zero Zero", resultado de uma oficina de audivisual, filme esse que deu mote à revista homônima e que foi lançado numa sexta-feira, 13 de junho de 2003, no Cemitério da Soledade, numa das cenas mais anárquicas desta terra.
Mojica faz filmes históricos, com uma coragem absoluta, sem medo da hipocrisia e da censura, sem medo da burocracia e da unanimidade, sem medo da mesmice e da burrice. Amaldiçoada seja a sua arte, vítima de todos os tipos de preconceitos e censuras, estes, originários, tanto durante os negros anos do regime militar, quanto neste tempo (pós-moderno?), no moralismo da (pseudo) intelectualidade cultural brasileira, em geral conceitual, covarde e leviana.
Ainda bem que este velho louco e alucinado foi ostracizado em seu próprio país. Assim, não precisou aprender a gramática da intelligentsia medíocre para construir o seu próprio percurso, fundado em corajosas atitudes, com as quais, enfrentando o medo a omissão da elite e sacrificando-se a si próprio e aos seus familiares e amigos, tem desempenhado a sua missão que é fazer cinema.
Indiferentemente aos critérios e análises reaccionários da crítica cinematográfica que se submete aos padrões e dogmas do sub cinema comercial, quer ele seja hollywoodiano ou Europeu, este homem "ignorante" (utilizo o termo entre aspas para ressaltar o preconceito da pseudo crítica intelectual), fez filmes influenciados pelo seu auto didatismo, sem nunca sequer ter lido um livro sobre cinema.
Mojica é um Brasil que se nega a si próprio. O Brasil pobre e violento, que tem força cósmica em sua interioridade mas que dispersa as suas energias em auto flagelações artísticas.
O Brasil de Mojica é genial, responde com criatividade às suas adversidades.

© Francisco Weyl (Carpinteiro de Poesia e de Cinema

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sétimo cartaz

O FÓRUM SOCIAL MUNDIAL E O CORREDOR POLONÊS

Sexta Conferência-relâmpago

... Antes de mais nada, quero informar que este projeto é da responsabilidade do Cineclube Amazonas Douro, da Rede Aparelho e do Corredor Polonês Atelier Cultural, organizações de criação e de agitação artística que geraram o CINECLUBE CORREDOR POLONÊS, que temos a honra de coordenar, com o apoio do Pai Arthur Leandro e da galera do Corredor, o Krom, a Isabela, o André...
... Aqui nesta rua nós temos projetado filmes, recebido e conversado com as pessoas, e mesmo quando muitas pessoas passam, transeuntes em geral que moram aqui perto ou que passam aqui para ir a algum lugar, mesmo quando estas pessoas passam e não observam ou que fingem não observar o que acontece no meio da rua, no caso, estas projeções, de uma certa forma, todas elas já estabelecem um processo de colaboração conosco, um processo de construção de atitudes, estéticas e poéticas de rebeldia, que caracterizam as nossas ações, porque, apesar de estarmos no dito centro da cidade, a nossa postura, toda ela, é periférica, já que nos colocamos contra este conformismo paraoara e esta resignação belemense de fazer as suas programações culturais apenas no espaços centrais, nas galerias e nos museus do centro da cidade, absolutamente de costas á periferias, logo, quando ocupamos o espaço da rua, nós estamos permitindo a que todos participem, mesmo quando não participam, pois que o simples fato de por aqui passarem já colabora para este processo do acaso, mas não por acaso e sim com propósitos...
.. portanto, hoje nós queremos gritar sobre o Fórum Social Mundial que foi realizado aqui em Belém, entretanto, se perguntarmos a cada uma das pessoas que agora estão a passar aqui nesta rua o que elas pensam do FSM, a maioria delas vai dizer que o FSM deu a maior confusão, deu engarrafamento, fumaram maconha, andaram nus, ou seja, elas reproduzirão o senso comum propagado na mídia burguesa que tem aqui no Pará como patrocinadores as famílias maiorana e barbalho, mas se uma terra depende de famílias para fazer notícia, então, como disse o grande jornalista Lúcio Flávio Pinto, isso aqui ta virando feira, kitanda, onde todo mundo grita mas só os donos das bancas metem a mão, mas nós, que conhecemos as causas dos povos e das comunidades, nós que nos articulamos no projeto CASA DE CABOCO, do Fórum dos Povos e das Comunidades Tradicionais, juntamente porque pensamos que as comunidades verdadeiras, aquelas que devem ter direito à participação, ficaram de fora do FSM, daí termos optado pelo CASA DE CABOCO e desenvolvido uma série de ações, entre as quais um seminário que colocou os mestres populares na mesma mesa que os mestres ditos eruditos para dialogar sobre interfaces e usurpação de saberes, fizemos também mostras de cinema no OLÍMPIA, com focos temáticos na Amazônia e na África, em buscas das nossas mais fecundas identidades, e, enquanto CORREDOR POLONÊS ATELIER CUTLRUAL, desenvolvemos um conjunto de ações artísticas, muitas das quais que já vínhamos desenvolvendo há cinco anos, sob a ótica da rebeldia, da independência e do experimentalismo, daí as performances ousadas que alguns brasileiros nos brindaram no entorno da Praça da República, fazendo um chamamento às reflexões sobre este Fórum Social Mundial, se as pautas que ele trouxe até o Pará de fato interessam aos paraenses e aos amazônidas, porque temos que ficar atentos, acordados e despertos com relação a estes que se utilizam das causas populares e dos movimentos sociais em benéfico de grupos e indivíduos cujo maior interesse é destruir as lutas históricas do povo, daí a nossa crítica ao FSM ao mesmo tempo em que comungamos com seus objetivos, quais sejam os de se colocar contra esta onda neoliberal e capitalista que destrói as consciências das pessoas, porque, camaradas, temos de ser nós mesmos, amazônidas, a colocar em discussão os assuntos que mais nos interessam, motivo pelo qual estas imagens hoje projetadas, elas tentam sintetizar a nossa causa, a nossa ação artística independente, porque este atelier reúne hoje o que de melhor e mais corajoso existe em Belém do Pará, as pessoas que vem aqui ter conosco, todas elas, saem impressionadas com o que vêem e muitas dizem que jamais viram o que acabaram de ver, porque, a partir de nossas ações artísticas de intervenção social nós buscamos desenvolver pensamentos e estéticas e poéticas articuladas à nossa realidade, o nosso projeto é um projeto ecológico, de resgatar o que a humanidade está a deitar fora, ou seja, a dignidade, a cidadania, a participação e a revolução históricas das consciências sociais, o que nós queremos hoje, portanto, com estas imagens, é revelar a nossa ação e mais do que isso convocá-los a coletividade, á intenção das coletividades, em que a ação responsável de todas tenha como meta a liberdade de todos... Viva a revolução, viva o socialismo, viva arte!

© Francisco Weyl (Carpinteiro de Poesia e de Cinema)

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