quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

FILOSOFIA E CINEMA

Quinta conferência relâmpago
Pode-se aplicar a filosofia a tudo na vida, até mesmo à arte cinematográfica. Entretanto, analisar filosoficamente uma obra pressupõe a apresentação de pensamentos filosóficos, que, como tais, não só não se adequam absoluta e exclusivamente ás obras cinematográficas, como também não se adequam necessariamente ao tempo em que foram produzidas pelos seus criadores, os quais, por serem profundamente empenhados em uma busca que transcende a temporalidade humana, legaram-nos ideais e valores que não se articulam apenas ao seu campo de estudo filosofal, mas, e por isso mesmo, à vida em toda a sua compreensão histórica, astronômica, física, matemática, artística, etc.
Portanto, pode-se usar a filosofia para analisar a arte cinematográfica mas a filosofia não poderá ser utilizada como instrumento de valoração da mediocridade comercial burguesa. Não poderá a filosofia legitimar a indústria global e suas narrativas estúpidas.
Afirmo isso para explicar que são histéricas e estéreis todas as interpretações e discussões originárias a partir das obras cinematográficas que tem sido realizadas neste tempo.
Primeiro que filosofia não é coisa que prenda a tempo. Segundo porque a filosofia não é coisa que se possa instrumentalizar para rentabilizar uma concepção artística que tem como fim o lucro, a mesquinhez e a burrice humana. Terceiro porque as narrativas burguesas não possuem nenhum conteúdo filosófico. Portanto, se se utiliza a filosofia ou argumentos filosóficos para interpretar um filme isto não quer dizer absolutamente que este filme possa ter algum conteúdo filosófico.
Se o realizador anuncia a sua pretensão filosofal através de sua obra, é preciso escavar as profundezas de sua matéria prima, é preciso ver as camadas fossilizadas de sua cinematografia ou de sua poesia, para saber se estas estão solidificas no amor aborígine á terra, porque o homem é terra, têm os olhos voltadas para o céu mas seu core é feito de terra, a terra é o planeta do homem, o seu plano primitivo, é nesta terra que o homem planta e colhe a sua obra filosofal, a qual não pode ser vendida em mercado de carne humana sob pena do homem tornar-se um verme.
Esta é a condição para que um homem possa fazer um filme poético e filosófico. Mas, se este homem faz filmes poéticos e filosóficos, os outros, o que fazem? Jogos de conquistas de espaços culturais, ecoam sons limitados que não se propagam na energia do espírito, falam para grupos e campos, discutem teorias mundanas, prostituem a arte por um mísero pedaço de pão. Os filmes destas criaturas podem gerar debates entre outros homens e então ouviremos todo um desfilar de teorias psico-sociais para justificar e conferir valor à narrativa burguesa, ao senso comum e a dominação das massas acéfalas.
São discussões histéricas e estéreis, que impõem um conhecimento não arqueológico, um conhecimento superficial, típico de quem não crê na capacidade humana de pensar, um conhecimento gerado pelo poder, que manipula consciências e relaciona filmes e personagens medíocres à vida real dos homens, um conhecimento com idéias articuladas entre episódios comuns da vida, para valorizar a condição humana hipócrita, um conhecimento resultante de teses acadêmicas aliadas á propaganda mediática para difundir um padrão mesquinho, um conhecimento pressuposto, um pseudoconhecimento que não disfarça o jogo do poder burguês, que tem funcionários e empregados em instituições culturais que defendem a vida da exata forma que ela é, esta vida fixa, imóvel, imutável, um conhecimento de intelectuais e pseudo-homens de cultura, que fingem interpretar e sentir a luz da filosofia a obra cinematográfica tão somente para valorar a podridão que só os vermes são capazes de gerar, vomitar, cagar e comer novamente, mas a filosofia, entretanto, sobreviverá a estas tempestades no deserto.
© Francisco Weyl (Carpinteiro de Poesia e de Cinema)

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